Cosmologistas não costumam extrair pistas do reino animal. Mas um modelo que postula a existência de uma partícula "camaleônica" - que mudaria sua massa de acordo com seu ambiente - está ganhando atenção. Um novo artigo alega ter encontrado sinais dessa partícula elusiva, cuja existência foi postulada pela primeira vez em 2003 para explicar a expansão acelerada do universo, atribuída a uma "energia escura" desconhecida. A massa em mutação de uma partícula camaleônica modificaria o alcance de atuação de sua força, possivelmente explicando, assim, o motivo da causa da aceleração do universo não ter sido detectada na Terra. Na Terra, a partícula camaleônica seria pesada demais para criar qualquer força notável, mas, nos confins do espaço, seu efeito seria imenso. Em teoria, fótons que viajam através de campos magnéticos podem se tornar camaleões, reduzindo a quantidade de luz que chega à Terra de fontes distantes. A redução do brilho depende da freqüência da luz. Ao comparar a luz emitida através do alcance de freqüências dos centros luminosos de 77 galáxias ativas, Douglas Shaw, da Universidade Queen Mary de Londres, e seus colegas descobriram o que eles chamam de "boa evidência" de que alguns fótons se perderam no percurso. "É uma maneira absolutamente interessante de olhar para as (exóticas) partículas e os resultados são certamente intrigantes", diz Frank Wilczek, físico de partículas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Cambridge, Estados Unidos, que não esteve envolvido no trabalho. Mas é muito cedo para interpretar as descobertas como sendo uma detecção inequívoca das partículas camaleônicas, ele diz. Desaparecidas Por si só, as observações de diminuição da luz feitas por Shaw e seus colegas não são capazes de diferenciar modelos baseados em partículas camaleônicas de modelos nos quais os fótons se transformam em outras partículas "parecidas com áxions". Ambas seriam "uma descoberta interessante", diz Shaw. No entanto, apenas o modelo camaleônico prevê que as polarizações dos fótons deveriam estar alinhadas aos campos magnéticos que as partículas atravessam. Até agora, a equipe estudou dados de luzes vindas de três estrelas na Via Gáctea e em cada caso encontraram a polarização necessária. "É uma técnica engenhosa e original", diz o astrônomo Malcolm Fairbairn da King's College London. Mas ele acrescenta que os astrônomos ainda não compreendem completamente como a luz é produzida nessas fontes distantes, por isso é difícil prever os sinais esperados na ausência das partículas camaleônicas. Contudo, a análise do grupo parece ter sido impulsionada por um estudo independente de um fluxo excepcionalmente alto de fótons de alta energia vistos pelo telescópio MAGIC em La Palma, e pelo telescópio Veritas no Arizona.